20070726



Os olhares de posse que lhe lançavam
pouco significavam, para quem nada significava.
Para quem nasceu verde de água,
nenhuma outra cor fazia questão de se atrever.
Todas as bolas de espelhos reflectiam
o que ele queria ver.
Ele era o topo da montanha que todos gostavam
de admirar.
E um, ao mesmo tempo que o admirava,
fê-lo prever que ia mudar.
Ia no topo da montanha,

a ver significado o seu reflexo preferido

...e tropeçou!

fotos originais José Calheiros ; Alexandre Costa

20070711


A vida tinha nascido para ser vivida pelas instruções
Ele, sempre seguiu, mesmo quando não concordava com as alíneas.
No meio do livro, foi desfolhar uma página
que já não podia ser desfolhada. Estava rota, saqueada…
Inventou ali, um viver desembaraçado de instruções
.

E a vida sem a maturidade do viver assim.
No modo de quebrar as regras encontrou apoiantes, que lhe simplificaram a vida.
Mas ele, tinha de descobrir sozinho, o quanto de tamanho,
significava aquele espaço que o rasgava.
Tentou voltar de vez em quando, a pegar no livro da vida instruída,

mas, jamais percebeu onde recomeçavam e onde se renovavam
As instruções que instruíam a vida que havia nascido para ser vivida

.

Fotos originais byFilipaandrade;Luis Miguel Mateus;Zé Pedro ;

20070707



É o uivo do lobo os ponteiros em sentido
o momento chegou alertado pelo perigo

A carne já está fraca a guerra bem eterna
Entre cada vão de escada Estão felinos, alerta.

Cerram-se fileiras adivinhando intenções
agrupam-se as armas para maltratar sensações

Revelam-se os segredos em cada toque dos trompetes
emaranham-se os reis, duques, damas e valetes.

Ao ritmo da caixa em vaivéns desmedidos
inimigos dos inimigos gritam prazeres proibidos

Os despojos caem lestos lá no campo da vitória
a guerra corre solta deixando orgasmos para a história

Não há bandeira branca para marcar quem desiste
tudo geme, tudo grita a guerra ainda resiste


...e nenhuma vai ganhar
imagens: ABrito Johannes Marta Ferreira Ugly in olhares.com

20070703








Adormeceu num sonho vazio
sem moldura que o encaixasse.
Viu o reflexo do silêncio,
no vidro em que cortou.
Do outro lado, foi desenhando promessas
e o sonho foi enchendo sem que quisesse.
O sangue ia sujando a colcha
rendada pelas mãos da avó.
E apagando as promessas
que ela não queria cumprir.
Perto do quadro d’O Grito
viu um vulto de passagem.
Nem se apercebeu da imagem da miragem.
Na quietude nublada que se mostrava a si
algo a enganava ou ela enganava-se ali
.