20061222

Conto de Natal

Era um largo, igual a tantos outros que existem em todas as aldeias de Portugal.
Sempre gostei das nossas aldeias, é sempre tudo tão prático e natural.
Tudo o que precisamos, seja o que for, é só preciso ir ao largo habitado pela imponência da Igreja e do seu padroeiro, temos também o Café Central e a mercearia da ti’Amélia, que funciona como banca de jornais, como posto de correios e como gerência das pensões dos reformados que lhes pagam as contas ao fim do mês. Há também, a barbearia do ti’Alfredo e o sapateiro mestre António. Não podemos esquecer o Sr. José ou “Sô Zé”, dono do táxi, que leva as pessoas à estação dos comboios ou à paragem do autocarro sempre que é preciso ir às “modernices” da cidade.
(...)


É esta a rusticidade da aldeia presente, em todo o lado. É esta a razão de haver na aldeia um largo, um círculo fechado que não tem princípio nem fim, onde as conversas sobre os males do corpo, o governo e o tempo que faz começam e acabam, onde tudo e todos são tão diferentes e tão iguais na luta pelo mesmo objectivo: acordar e adormecer, com a esperança de viver cada dia como se fosse o ultimo, preocupando-se em deixar tudo pronto para o dia seguinte.

É no largo da Igreja que, ao pôr-do-sol, tudo termina, numa mistura de barulhos de vozes com motores de tractor, de cheiro de corpos suados com rostos sujos e cansados. É no largo da Igreja que as cabeças cobertas por lenços negros e por boinas aos quadradinhos cinzentos e negros, se arrastam em direcção a casa, numa procissão de vultos divididos em pequenos grupos. Uns vão tratar dos animais, outros preparar o jantar e encher o termo do almoço, porque depois de um dia de trabalho por conta de outro, é preciso tratar do que é de cada um. Amanhã, o largo vai encher-se outra vez, bem cedo, de gente ansiosa por começar tudo de novo de forma igual, num dia diferente


24/01/2004

Este texto está quase de parabens. Mas não é por isso que decidi partilhá-lho. O conjunto de textos, ao qual, este espécime pertence marcou uma fase eu que eu escrevia para um jornal regional, dava os primeiros passos na escrita e terminava o secundario.

Não é um conto de Natal tradicional...mas para mim é mais do que isso. É o caminho que, ainda hoje, se faz na minha aldeia e que eu nunca me importo de observar.


A TODOS OS CLIENTES DO TASKINHA, QUE NÃO SE CANSAM DE VIR BEBER UM COPO DE PALAVRAS E PETISCAR UNS SENTIMENTOS, O MEU VOTO DE:


FELIZ NATAL E UM GRANDE 2007