20061024



Era o pintor, chegava a qualquer hora, porque para ele não importa o tempo, a causa dele chama-se inspiração e essa, não tem relógio – pelo menos que tenha horas certas.
Lá vai ele, rua abaixo, rua acima, uma flor aqui, uma varanda acolá, mais uma `arvore carregada de Outono… e o gato. Todos os quadros precisam de um gato na sua preta pose de altivez. Segue a espalhar …
Era o pintor, que pintava o tudo e o nada, enchia o vazio de cheio, olhava os que o olhavam e voltava a olhar em repetições certas marcadas pelos olhos.
Para eles, ele era o pintor. Para o pintor, elas eram a solidão. As pessoas. A razão.

Era o pintor, que escrevia palavras que eram desfolhadas no rés-do-chão das livrarias, por pessoas sedentas de ler sentimentos. Porque os quadros dele eram poemas. Prosas. Anedotas.
E ele olhava os que se saciavam e voltava a olhar em repetições certas, timidamente, marcadas pelo sorriso.
Para ele, elas eram a vida. Para elas, ele era o seu mágico. O refugio. O sabor.